terça-feira, 14 de junho de 2011

Bidu Sayão em Belém



Hoje enquanto organizava as fotografias da APL, encontrei estas duas fotografias de uma das maiores estrelas do Brasil, Bidu Sayão, em sua visita a Belém no ano de 1936. Aproveito para reproduzir também, trechos de impressões de sua viagem a Belém, que constavam no diário de sua mãe Maria José de Oliveira Sayão e que localizei em outra pagina da internet.

A Fotografia foi tirada no Teatro da Paz com o então Governador José Malcher, sua esposa, o prefeito Abelardo Condurú e outras personalidades.

Pedro II
 No dia 29 de Novembro de 1936.
Embarcamos em Fortaleza, no Pedro II até Belém, no Pará. O embarque em Fortaleza é muito difícil, porque não tendo ainda essa Capital, um Porto, deve-se tomar uma lancha, para ir até o navio, sendo.ahi o mar muito bravo ! Felizmente a distancia até o navio é pequena . Gostamos muito de Fortaleza, pela amabilidade de todos e da culta sociedade.
No dia 1 de dezembro de 1936.
Chegamos à São Luiz do Maranhão que é a Capital, mas não descermos ahi para visitar a Cidade, porque como não tem um Porto, o navio fica longe! e, assim logo às 10 horas da manhã o Pedro II levantou ferro para Belém do Pará, onde se Deus quizer, devemos chegar amanhã, dia 2 de dezembro.
Belém
 No dia 2 de Dezembro de 1936.
Chegamos em Belém do Pará, ficando hospedadas no Grande Hotel, que é magnífico e que fica n'uma linda Praça toda arborisada de lindas mangueiras, e defronte do lindíssimo Theatro da Paz. Fomos no mesmo dia que chegamos visitar o Jardim Zoológico, que tem os pássaros mais lindos do Amazonas! A Cidade é bonita e principalmente muito pittoresca, porque todas as ruas são verdadeiros túneis de lindas mangueiras.
No dia 2 de Dezembro de 1936.
Bidú deu o 1º Concerto, no Theatro da Paz, com o Theatro completamente esgotado, tendo tido discursos, flores, ovações delirantes, de um publico enthusiasta e culto, que quasi bisou todo o Programma e pediu ainda muitos extras! N'um intervallo, o Governador inaugurou uma linda Placa de Bidú, no Theatro, como commemoração de sua passagem, sendo Bidú homenageada e ovacionada por todo aquelle grande publico! Foi uma grande noite de arte e de gloria essa para Bidú. Louvado seja N.S.Jesús Christo e todos os nossos Protectores!
No dia 3 de Dezembro de 1936.
Fomos de automóvel visitar a Cidade, indo tambem ao Mercado, que é bem interessante. Visitamos também a Basilica de Nazareth, que é talvez a mais linda e artistica, com seus quadros sacros todos em moisaicos pequeninos doirados, que tenha no Brasil.
No dia 3 de Dezembro de 1936.
O Governador do Pará e a família deram uma recepção à Bidú, às 5 horas da tarde, onde compareceu o que havia de mais distincto e elegante de Belém. Ficamos encantadas pelas gentilezas e amabilidades, tendo o Governador e a Senhora, oferecido à Bidú, uma lindíssima e rica valiseta toda de crocodillo, como lembrança de sua passagem à Belém!
No dia 4 de Dezembro de 1936.
O Prefeito e Senhora offereceram um lunch à Bidú, tendo a senhora do Prefeito offerecido à Bidú, uma linda bolsa de pelle de sapo, com um lindo cinto e uma trouxesinha de madrepérola. Comemos todas as especialidades do Pará e também de todos os saborosos refrescos das diversas frutas d'aqui.
No dia 4 de Dezembro de 1936.
Bidú deu o 2º Concerto no Theatro da Paz, debaixo de ovações interminaveis de uma Consagração nunca vista até hoje em Belém. Uma maravilha em tudo! Cestas de flôres lindissimas. Um Acontecimento, que ficará memoravel e inesquecivel por todos os tempos em Belém! O povo acompanhou com palmas Bidú até o Hotel! Que grande triumpho, e que Noite de Glorias foi esse Concerto de despedida ao público Paraense! Louvado seja N.S. Jesus Christo e todos os nossos Protectores! O Programa foi todo bisado, e muitos extras ainda: pois o publico não queria sahir do Theatro, applaudindo em delírio!
No dia 5 de Dezembro de 1936.
Bidú teve ainda um chá offerecido na casa de uma das amiguinhas que fez em Belém, chamada Elena Coelho a qual tem uma lindíssima voz mas que precisa muito ainda de educa-la! Bidú ganhou muitos presentes de lembranças do lugar e deixou muitas saudades a essa amável gente, que não sabia mais o que fazer para obsequia-la, sendo hospede official.
Duque de Caxias
No dia 5 de Dezembro de 1936.
Partimos de Belém às 8 horas da noite para Manáos, pelo Navio Duque de Caxias!
No dia 6 de Dezembro de 1936.
Passamos pelo Estreito de Breves que é de um pittoresco indescretivel pois o Navio passa tão perto das bordas do magestoso rio Amazonas cujas bordas são verdadeiras florestas virgens, com variados panorammas e algumas habitações primitivas dos caboclos que ahi vivem, que muitas vezes parece que o Navio vae esbarrar-se n'essas margens! Outras vezes o Navio navega no Magestoso Amazonas, como se estivesse em pleno Oceano, tal a enormidade a perder de vista no horizonte d'esse imponente e deslumbrante Rio,o maior do Mundo, uma Apotheose.
No dia 7 de Dezembro de 1936.
Navegamos todo o dia pelo imponente Amazonas, ora pelas pittorescas margens, ora em pleno Oceano, tal a grandiosidade d'esse Colosso, que só se vendo, se poderá acreditar, e que descrever não ha adjectivos, e superlativos que possam qualificar!!
No dia 8 de Dezembro de 1936.
Chegamos pela madrugada a Santarem, o 1º Porto depois de Belém. O Navio demorou pouco tempo sahindo às 7 horas da manhã. Como era dia de Nossa Senhora da Conceição, assisti à missa que houve à Bordo. N'esse mesmo dia chegamos à meio dia ao 2º Porto, chamado Obido que é Divisa do Pará com o Amazonas, não demorando ahi o Navio.
No dia 9 de Dezembro de 1936.
Chegamos às 10 horas da noite ao ultimo Porto chamado Taquatiara, tendo assim, no dia seguinte finalisado a nossa viagem até Manáos a Capital do Amazonas.
No dia 10 de Dezembro de 1936.
Chegamos à Manáos, Capital do Amazonas, depois de 5 dias de viagem pelo Magestoso Amazonas!
Ficamos hospedadas em uma Pensão, que o Governo tomou para nos hospedar officialmente e que nos trataram com verdadeiros banquetes e todo o conforto, visto n'esta Capital não haver um Hotel digno de qualquer hospede! Bidú foi recebida à Bordo com banda de musica e todas as autoridades do lugar, que a conduziram em automoveis do Governador. Fomos logo visitar o Theatro Amazonas que é lindissimo, e o mais rico de todo o norte.
No dia 10 de Dezembro de 1936.
Bidú deu o 1º Concerto no Theatro Amazonas de Manáos, que é lindíssimo e que estava replecto. Como sempre foi um colossal triumpho esse Concerto, com discursos, flores e muitos bis, delirantemente ovacionada em tudo, tendo, enthusiasmado toda a plateia!
No dia 11 de Dezembro de 1936.
Fizemos um lindo e original passeio de lancha pelas margens do collossal Amazonas, desembarcando em um lugar chamado Carreiro e indo a uma casa muito pittoresca de um caboclo vendo alli a Victoria Regia, que é a flôr mais linda aquática do Amazonas! Esse passeio durou o dia inteiro e foi o mais lindo dos passeios que fizemos, vendo os lagos onde estão abertas as Victorias Regias!!
No dia 12 de Dezembro de 1936.
Bidú deu o 2º e último Concerto no Theatro Amazonas de Manáos, que estava superlotado de tudo que de mais distincto havia na Cidade! Foi uma noite maravilhosa de glórias e de arte para Bidú, que teve Discursos, flores, inauguração de uma placa commemorando a sua passagem pelo Theatro Amazonas, e ovações interminaveis d'esse publico tão culto! Bidú estava muito bem de voz e deu muitos bis e extras! Teve criticas maravilhosas, tendo tocado na entrada do Theatro uma banda de musica! Logo depois de acabado o Concerto viemos para bordo do Duque de Caxias sendo Bidú acompanhada por quasi todos que assistiram ao Concerto, e que ficaram dizendo Adeus, até que o navio desapareceu no horizonte, saudosos e ainda tão enthusiasmados pelas horas deliciosas que passaram.
Duque de Caxias
No dia 12 de Dezembro de 1936.
Partimos, à meia noite de Manáos para Belém, depois do Concerto de Bidú! No dia seguinte 13 de Dezembro chegamos às 9 horas da manhã em Taquatiara, onde o navio ficou todo o dia carregando madeira.
No dia 14 de Dezembro de 1936.
Chegamos pela manhã a Parintins, onde o navio não demorou. As 10 horas da noite d´esse mesmo dia chegamos à Santarém, tendo sahido pela madrugada. No dia 15 chegamos à S.Miguel dos Macacos e depois à Breves passando pelo estreito de Breves que é muito pittoresco, pois o navio quasi que toca nas margens. No dia 16, navegamos todo o dia, e finalmente no dia 17 de Dezembro chegamos às 4 horas da tarde a Belém, d'esta maravilhosa viagem!
Belém
No dia 17 de Dezembro de 1936.
Chegamos à Belém, ficando hospedadas no Grande Hotel.
No dia 17 de Dezembro de 1936.
Bidú deu o 3º e ultimo Concerto no Theatro da Paz de Belém que estaria superlotado e lindíssimo ! Foi uma maravilha, esse Concerto, uma apotheose, pois nunca vi uma platéia inteira vibrar tanto de enthusiasmo, ovacionando delirantemente, bisando e não querendo sahir mais do Theatro! Não se póde descrever a noite de glorias de Bidú, que estava maravilhosa de voz e de arte! Foi um Concerto memoravel e Belém nunca mais esquecerá Bidú ! Louvado seja N.S.Jesús Christo e todos os nossos Protectores, pela gloriosa tournée que hoje findou.
Commandante Riper
No dia 18 de Dezembro de 1936.
Partimos de Belém, pelo Commandante Riper que sahiu às 17 horas da noite. Levamos muitas saudades das amiquinhas de Belém, Helena, Ivany e outras, e dos nossos dedicados Frazão, Nilson, etc, e ficamos captivas pelas attenções e gentilezas do Governador Marcher e família que das 2 vezes recebeu a Bidú e a mim como hospedes officiaes, pondo o automovel à nossa disposição todos os dias para passeios! Que bôa gente e quanta gentileza e presentes que Bidú recebeu n'esta Cidade! Helena, Ivany e os nossos amigos vieram à Bordo, ficando até que o Navio desaparecesse e dizendo-nos adeus com lenços, cheias de saudades e chorosas!
Fontes:
Fotografias: Acervo da APL
Copia do Diário: http://www2.uol.com.br/ spimagem/personalidades/ historicas/bidu_sayao/ pt_belem .htm

Um comentário:

Marco Antônio Rodrigues de Oliveira disse...

Que grandeza! Que riqueza! Que presente! Não sei se me maravilho mais com o texto da mãe de Bidu, ou com a generosidade de Thiago Bezerra Viana. Thiago, quero parabenizá-lo, distingui-lo, exortar a sua iniciativa de publicar documento tão relevante. Grato, muito grato.