terça-feira, 24 de abril de 2012

O Santo Imortal ou o Imortal Santo?


“Guarda-me como a pupila dos olhos, esconde-me à sombra de tuas asas, longe dos ímpios que me oprimem, dos inimigos mortais que me cercam”
Salmo 17

Hoje estava organizando alguns arquivos da Academia Paraense de Letras (agora inicio quase todos os meus post assim) e me deparei com um uma pasta de um dos antigos imortais. Eram os documentos de D. Antônio de Almeida Lustosa. Era uma pasta fina, com algumas notas recortadas de falecimento, a data que ocupou a cadeira da APL e as duas fotos que aqui publico. Nada mais!!

Diante das fotos onde se consegue visualizar o Governador Magalhães Barata, me ocorreu de buscar mais algumas informações sobre este elemento da APL esquecido pelo tempo. Acabei por me surpreender, pois apesar de sua trajetória ter sido olvidada pelos seus confrades de letras, sua imortalidade foi consagrada pelos fieis católicos.
Com o Intendente Magalhães Barata no município de Bujarú

Dom Antônio de Almeida Lustosa nasceu em 11 de fevereiro de 1886, na cidade de S. João del Rei, estado de Minas Gerais e foi ordenado padre em 1912. Foi nomeado bispo de Uberaba em 1925 permanecendo nas funções até 1928, ocupou ainda o bispado do Corumbá (1928-1931), sendo posteriormente promovido a arcebispo de Belém do Pará, pelo Papa Pio XI, no dia 10 de julho de 1931.

Chegou a Belém no dia 17 de dezembro do mesmo ano, fazendo sua entrada solene na catedral no mesmo dia. Nos dez anos de seu governo, ele visitou todo o território da Arquidiocese, apesar das grandes dificuldades de acesso e excessiva extensão territorial. A partir de setembro de 1932, Dom Lustosa passa a publicar no periódico católico "A Palavra", suas crônicas relativas às visitas pastorais. Esta coluna terá o nome de "A Margem da Visita Pastoral"; a coletânea destes artigos foi publicada como livro. De sua pena saíram ainda muitos outros livros, entre os quais uma biografia de Dom Macedo Costa, Bispo do Pará.

Dentre as muitas realizações de Dom Antônio Lustosa destaca-se a reabertura do Seminário Nossa Senhora da Conceição, confiado à administração dos salesianos; criação de diversas paróquias; instalação de comunidades religiosas dos Padres Crúzios, das Irmãs Filhas de Maria Auxiliadora, das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, das Irmãs Capuchinhas, das Angélicas de São Paulo e das Irmãs de Nossa Senhora da Anunciação. Realizou ainda a sagração da Basílica de Nazaré, a fundação da Ação Católica, participou da restauração e levantamento da Congregação do Imaculado Coração de Maria, tornando-se co-fundador, fez campanha da boa leitura, da recitação do terço e procurou valorizar o sacrifício da missa.

Todas estas atividades foram realizadas somente em solo Paraense, ao longo dos 10 anos que aqui se manteve. Foi um verdadeiro guerreiro da cruz, que a todo custo tentou minimizar o sofrimento de seu rebanho, que nesse período encontrava-se em precárias condições de vida.

Foi nomeado membro da Academia Paraense de Letras, sendo fundador e primeiro ocupante da cadeira 13 que tinha como patrono Dom Romualdo de Seixas. Sua posse ocorreu em 17 de janeiro de 1937.
Em 18/08/1953 com personalidades do Pará e alguns membros da Academia Paraense de Letras


Publicou: Dom Macedo Costa (1939), Carta Pastoral (1935), No estuário amazônico: à margem da visita pastoral (1976), Respigando (1958) e Abraçando a cruz (1982 – Publicação Póstuma).

Sua obra “No estuário amazônico: à margem da visita pastoral” foi originalmente editado em 4 volumes, entre os anos de 1932 a 1938, sendo posteriormente condensada pelo Conselho de Cultura do Pará e reeditada no ano de 1976. Esse trabalho foi o resultado, de suas minuciosas observações, realizadas no interior do Pará durante suas visitas pastorais, quanto a linguagem popular, costumes locais, alimentação, geografia e plantas regionais.

Escreveu ainda dezenas de cartas pastorais, entre elas uma de combate ao impaludismo, que acabou sendo adotada como leitura em grupos escolares da cidade de Belém.

Faleceu em 1974, com 88 anos de idade.

Segundo o Escritor e Médico Vinícius Barros Leal, foi um “homem profundamente de Deus, que se colocou muito além de um religioso comum, com seu comportamento fundamentado na ética, decidido no caminho do bem, repleto de serenidade e equilíbrio, bondade e disciplina, nunca perdendo um só minuto do seu precioso tempo”

Desde 1993 existe um processo para a canonização, aberto pela Arquidiocese de Fortaleza.

Será que em poucos anos estaremos diante de um Imortal da APL santo?

Frases de Dom Antônio Lustosa:

“Não é só de pão, mas é também de pão que vive o homem”.

“Na hora da provação apura-se-nos o sentimento da gratidão. E urge conosco o dever de significar aos que nos estendem a mão quanto nos penhorou o conforto quem, na hora amarga, nos dispensaram”

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