quarta-feira, 8 de abril de 2009

Um Brado dos Escravocratas

A 4 de setembro de 1850, foi aprovada a lei Eusébio de Queirós, que legalmente dava fim ao tráfico de escravos. Se de imediato esta lei não trouxe profundas transformações em algumas regiões, haja visto, ter ocorrido um aumento do trafico ilegal e um tráfico interno, outras em pouco tempo sentiram a diminuição da mão de obra agrícola e prejuízos latentes em suas economias. A Província do Pará encontrava-se entre estas ultimas.

Menos de um ano depois os periódicos da província já manifestavam sua indignação ante a situação em que se encontravam as lavouras do Pará. Na realidade a questão da crise da produção agrícola no Pará não era tão somente resultante da minguada mãos de obra e do fim do tráfico de escravos, era uma questão estrutural, mas que na mentalidade de muitos, era acentuada pela escassez de trabalhadores.

O problema passou a ser como conservar os escravos ainda existentes, devido ao fato da crescente fuga e formação de quilombos.

...quando em fim mais se disima nesta província a gente do serviço rural, pela constante fuga de escravos, apadrinhada pelo desleixo das authoridades a respeito dos quilombos, a proteção mesmo de algumas... importa que o escriptor publico alce hum brado,e brado bem forte a favor da classe agrícola e proprietária; e reclame dos poderes do paiz a devida proteção, e necessárias providencias...”(Velho Brado do Amazonas, 17 de junho de 1851)

Os quilombos eram uma realidade e se disseminavam rapidamente pela província, do mesmo modo que no restante do país, e mais do de nunca criavam um desconforto em determinados setores da sociedade. Se antes estas comunidades encontravam-se fincadas nas, mas remotas matas da província, em 1850 estavam mesmo às portas da capital.

A província era uma sociedade em transformação, onde alguns não conseguiam aceitar as mudanças, ainda mais referentes aos negros. Centenas de reclamações a cerca da liberdade e comportamento, dos cativos, eram contestadas, e responsáveis pela indignação dos setores mais tradicionais.

“...a fuga de escravos continua em grande escala; os quilombos tem emissarios nas cidades, os escravos tranzitão com a maior liberdade a deshoras pelas ruas da própria Capital, sem bilhete o guia de seus Senhores; frequentão batuques nocturnos; possuem cazas alugadas por sua conta, e isto em contravenção de leys em vigor...”(Idem)

Ante tudo isso, os fazendeiros clamavam por providencias por parte das autoridades, ainda mais quando se verificava a existência de um fluxo comercial entre os quilombos e a capital da província. Os aquilombados costumavam aportar no porto do Sal, onde vendiam lenha, carvão, frutas e compravam o que necessitavam, chegando mesmo a adquirir pólvora e armas.

“...tudo isso o povo sabe; e a policia? Tudo tem ignorado! Ou a tudo tem feixado os olhos!...Cremos porém que teremos remédios, porque os clamores de vários lavradores e proprietários já tem chegado á os ouvidos da Prezidencia, e da Chefatura da Policia...”(Idem)

Era o brado de uma sociedade declinante que parecia não saber viver sem a infâmia da escravidão.

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