sábado, 13 de novembro de 2010

A Biografia Negra de Demetrio Bezerra

Nesta ultima eleição, vimos todos os tipos de acusações feitas pelos candidatos, tanto em suas vidas públicas, quanto privadas, e nesta era de tecnologia, a internet foi um dos veículos mais utilizados para denegrir a imagem dos adversários.


Ocorre que não é um fenômeno novo, desde o inicio da política no Brasil é assim...

Para mostrar, resolvi publicar esse conjunto de acusações feitas ao político Demetrio Bezerra da Rocha Moraes, que foi o inspirador deste Blog.


O inicio dos trabalhos da assembléia provincial, referentes ao ano legislativo de 1882, foi marcado por uma verdadeira anarquia, beirando o pandemônio, onde não existia entendimento entre os partidos e cada qual tentava, a todo custo, aniquilar o outro. As comissões verificadoras, acabaram por cassar o mandato de 5 membros do partido liberal, inclusive o Dr. Demetrio Bezerra da Rocha Moraes, por considerar irregulares as suas votações. Deste modo, presidida pelo Cônego Manoel de José de Siqueira Mendes, a Assembléia provincial era majoritariamente do partido Conservador.

Logo após a cassação dos mandatos dos liberais, começou a ser publicado nos veículos de comunicação do partido Liberal, em especial o jornal, O Liberal do Pará, uma seria de artigos assinados com o pseudônimo de Gilmancio. Neste artigo se nomeou os conservadores de Juvêncios e se iniciou a publicação de uma serie de biografias dos “Juvencios” do partido Conservador. Eram artigos de caráter difamatório, que punham em causa a integridade e respeitabilidade dos membros deste partido.

Em menos de 10 dias, já corria pela cidade que o Gilmancio, era ninguém mais ninguém menos, que o Dr. Demetrio Bezerra da Rocha Moraes. Este inicialmente negou o fato, publicando artigos em sua defesa, mas em poucos dias deixou de se defender, o que levou a uma confissão tácita.

Gilmaco em uma de suas correspondências para Fiok Romano assim afirma:

“ Aposentado, com casa mesa e luz, sobra-me tempo para procurar as razões pelas quaes v. exc. Não tem aposentos nem garrotes para capar. Veja v.exm. quanto é melhor caçar dotes do que esperar o chorrilho das sortes.”[1]

Era tudo o que seus adversários queriam para iniciar uma serie de ataques. Com esse seus comentários, um velho murmúrio da cidade rapidamente voltou a tona : o seu casamento com a filho do Sr. Dr. Antonio Gonçalves Nunes.

Já em 1881, poucos meses depois de seu casamento, a disputa com seu irmão, bacharel Antonio Bezerra e com os Cardoso de Soure, trouxe ao publico, a suposta mesada e pensão, concedida pelo Dr. Nunes , ao seu genro.

Nas palavras de Fionk Romano:

“Dr. Demetrio Bezerra... decidio-se a casar para ter casa, meza e luz e ...algumas cositas mais!!... viver as custas alheias na casa de seu sogro..”[2]

Era um historia, já antes citada, por seus adversários que rapidamente voltava a boca do povo, através das paginas do jornal do partido Conservador. Seu casamento e os fatos que o circundavam, sempre serão uma arma nas mãos de seus inimigos. Fionk Romano afirma:

“...o sr. Dr. Demetrio Bezerra, levava uns restos de homem, com um sujo pergaminho de bacharel em direito, o outro dava-lhe um dote...muito dinheiro !!”[3]

Ainda:

“...os requisitos de uma celebre carta anti-nupcial...”[4]

Mais o que mais dava munição para os conservadores era, mesmo vivendo à custa, do sogro e na casa do mesmo, não respeitava, nem a este nem a esposa, e continuava a manter uma família paralela.

“...sustenta uma casa de família à rua dos Martyres que tem a seu cargo !!”[5]

Não duvidavam mesmo que seria capaz de por em suas crônicas, sobre o pseudônimo de Gilmancio, o retrato de seu sogro, no Álbum dos Juvencios, uma vez que mesmo afastada a 9 anos da Assembléia e somente retornado neste ano, o Dr. Nunes era um lendário membro do partido conservador.

O próprio Dr. Nunes não foi poupado, e insinuações foram feitas ao seu respeito e a origem de sua fortuna.

Existi ainda uma outra duvida a circular, o que tinha feito o Dr. Demetrio com o dote pago por seu sogro?

“...Caloteou a quem pode com protesto de pagar, quando recebesse o dote de seu casamento!!!...”

E passado quase um ano deste pagamento:

“...ate os objetos da toilettes de seu casamento estão por pagar...”

Rapidamente o passado do Dr. Demetrio começou a fazer parte dos tablóides e velhas historias murmuravam :

“...a celebre doação feita por um demente e outras cositas mais!!...”

“...as peripécias do roubo dos autos do cartório do escrivão Lima..”

Este último, fazendo referencia o desaparecimento de uns autos de uma ação movida contra o finado Comendador Acatauassu, do cartório do escrivão Marcellino M . Lima, do qual este teve que pagar o valor de 4 contos de réis pelo sumiço.

“O Dr. Demetrio tem queda para viver á custa alheia...”[6]

Fazia-se referencia isso a um antigo caso que possuiu antes de casar, com uma conhecida meretriz da cidade de Belém:

“... esteve à soldo de uma meretriz..”[7]

“...Antes de achar a casa de seu sogro... teve a fortuna de encontrar uma pobre mulher que lhe fornecia casa, mesa , luz e ate dinheiro para sustentar seus vícios...”[8]

“Nunca Alexandre Dumas Filho poderia encontrar melhor executor do papel de Armando com Margarida Gauthier, na Dama das Camélias, do que o Sr. Dr. Demetrio com a sua Tété...”

Para piorar as coisas, neste mesmo período, certos incidentes vão ocorrer em Soure, e as atitudes tomadas pelo Dr. Demetrio serviram ainda mais para a chuva de criticas , que lhe direcionavam.

Em um artigo de 20 de maio de 1882, publicado no Liberal do Pará, Dr. Demetrio sai em defesa do 2° suplente do juízo de Soure, Dr. Justino Machado de Miranda, acusando de arbitrariedade, tanto o prefeito como outros elementos da administração de Soure, que haviam emitido mandado de prisão para este senhor. Nada pareceria estranho se não fosse as circunstancias e os motivos que levaram a esta ordem de prisão.

Dr. Justino Miranda, deflorou sua jovem cunhada Izabel, irmã de sua esposa, de apenas 17 anos de idade, e conseqüentemente a engravidou, sendo que a jovem era órfã, e era tutelada pelo mesmo, sendo ele também o representante da jovem no processo de inventario que se abria em relação aos bens deixados por sua mãe.

Procurando minimizar o escândalo, resolveu retira-se de Soure, para uma de suas propriedades nos arredores da cidade, juntamente com sua família, incluindo a jovem cunhada, ao qual era tratada como uma segunda esposa. Levava também uma escrava, ao qual havia, em parceria, com sua esposa, concedido a liberdade. Dias depois a ordem de prisão, lhe chega as mãos. Nesta ordem a acusação de roubo de escrava, efetuada pelo Sr. Joaquim da Rocha Bezerra, cunhado de sua esposa e responsável pelos bens a serem inventariados.

A escrava ao qual o Dr. Manoel concedeu a liberdade, estava no rol dos bens a serem inventariados e que estavam sobre a custodia do Sr. Joaquim da Rocha Bezerra. A escrava foi presa e a menor retirada da tutela do cunhado. Nada disso, atingiria o Dr. Demetrio, se a jovem em questão não fosse sua prima legitima e o Sr. Joaquim da Rocha Bezerra seu tio.

“Consta-nos que o Dr. Demetrio Bezerra irá a Soure, defender o deflorador de sua prima e o roubador da escrava de seu tio!!”[9]

A sua queda pela boemia e pelos jogos de azar também não foram deixados de lado, e será neste quesito que alem da sua integridade familiar a sua integridade profissional ser aposta em causa.

“Não jogo como s.s. fiado para nunca mais pagar...”[10]

“Lembra-se que quando chefe de policia, do que ficou devendo em diversas bancas de Baden em Nazareth, que ainda hoje esperam pelo pagamento?!”[11]

Mas acusações mais graves eram feitas a respeito do desempenho de suas funções como chefe de policia:

“Lembra-se s.s., ainda quando chefe de policia, quando se dirigia as bancas de baden para examinar o dinheiro dos banqueiros, afim de ver se haviam cédulas falsas?!”[12]

Os ataques e artigos referentes ao Dr. Demetrio eram quase que religiosamente, diários, sendo executados, principalmente por Fiock Romano, Evaristo Lima e um assinante “parente da órfã deflorada”, que fazia referencia a jovem deflorada, em Soure. Dr. Demetrio, poucas defesas fazia as acusações, realizando no mais ataques, hora com a sua própria assinatura, hora como Gilmancio, pseudônimo da discórdia. Essa sua aparente recusa e limitação de defesa, acabou por ceder terreno para os seus inimigos , que intensificaram os ataques e o grau das acusações. A gravidade das acusações alcançara o seu auge, em um artigo publicado em 22 de maio denominado de “Cain”.

...Quem teve a temeridade de levantar a sacrílega mão para ferir a sua própria mãe é um ente desprezível;

Quem por mais de uma vez tem escandalizado o publico na luta fratricida que tem tido com seu honrado irmão, vitima de seu ódio satânico é um réprobo;

Quem, para pagar dividas de jogo serve-se do cargo de policia para cometer as maiores das infâmias é um miserável...”
[13]

Nada mais baixo poderia ser referido a um homem do que a suposta agressão feita a sua própria genitora. Diante destas acusações o Dr. Demetrio resolveu tomar uma decisão e as cabíveis providências.

“Accedendo a pedidos de amigos a quem muito considero, entre os quaes o exm. Sr. Vice-presidente da província Dr. Domingos Antonio Raiol, tenho resolvido não responder mais aos insultos que pela `Contituição´ me dirige o seu redacto, o Sr. Dr. H. V. Fiock Romano.”[14]

E será nesta mesma tentativa de por uma pedra sobre o assunto, que veremos, pela primeira vez, o Dr. Demetrio se defender, diretamente, das acusações feitas a sua pessoa. Primeiramente em relação a acusação de conflitos com sua mãe, publica parte de uma carta, enviada pela mesma, meses antes de falecer e informa que de fato sua mãe faleceu ao seu lado.

“Soure 17 de julho de 1879

Demetrio,


Desejo que tenhas gozado boa saúde. Eu vou vivendo sempre com a dor no coração. Peço que me digas em que estado esta o negocio da nossa fazenda, pois eu quero retirar-me daqui; quero ver se fico boa fazendo uma viajem para fora da província e so contigo conto para me fazer todo o bem que poderes, o que te hei de agradecer...”
[15]

A segunda acusação que resolveu se defender foi sobre a utilização do cargo publico para a colheita de benefícios. Sr. Demetrio tinha ocupado o cargo de delegado de policia e interinamente o de chefe de policia pelo período de 16 meses. E assim se defende e intima seus adversários:

“...que aponte um facto desonroso por mim praticado nos cargos de delegado e de chefe de policia interino desta província...”[16]

Nos dias que se sucederam a esta declaração de tréguas, ainda foi visível alguns artigos, assinados pelos conservadores, mais muito mas se defendendo do que atacando e com a proximidade das eleições, os olhos do povo se voltaram para outros assuntos...

O povo costuma dizer que: “O jornal de hoje é o lixo de amanha” e assim foi e assim é!

______________________________________________
[1] O liberal do Pará de 14 de maio de 1882
[2] A Constituição 15 de maio de 1882
[3] Idem...
[4] Idem..
[5] Idem...
[6] idem
[7] A constituição de 19 de maio de 1882
[8] A Constituição de 15 de maio de 1882
[9] A Constituição de 22 de maio de 1882
[10] A Constituição 15 de maio de 1882
[11] Idem
[12] idem
[13] A Constituição de 22 de maio de 1882
[14] O liberal do Pará de 24 de maio de 1882
[15] O Liberal do Pará de 24 de maio de 1882
[16] idem

2 comentários:

Unknown disse...

Olá, tens alguma imagem do Macário, os do Demétrio? Ele vai ter um.lugar certo em Minha tese de doutorado.

Unknown disse...

Olá, tens alguma imagem do Macário, os do Demétrio? Ele vai ter um.lugar certo em Minha tese de doutorado.